A professora de uma creche foi presa pelo crime de estupro de vulnerável no município de Canelinha, no Vale do Rio Tijucas, nesta terça-feira.
A vítima foi a própria filha dela, uma menina de apenas 4 anos à época.
Após o cumprimento do mandado de prisão, ela foi levada ao Presídio Feminino de Itajaí.
A acusada já acumulava passagens por diferentes cargos públicos na área da Educação Infantil.
Em 2023, foi aprovada em concurso da Prefeitura de Tijucas e convocada oficialmente em fevereiro de 2025 para atuar em uma creche do município.
Antes disso, havia atuado em Canelinha, após ser aprovada em concurso estadual em 2014.
Mais recentemente, foi contratada temporariamente em Nova Trento, em fevereiro deste ano, para substituir uma servidora afastada.
O mandado, expedido pela comarca de Tijucas, está diretamente relacionado a uma série de crimes praticados contra uma criança, iniciados ainda quando a menina tinha apenas 4 anos.
De acordo com o Ministério Público, os abusos se repetiram por anos. A menina, que deveria estar protegida, foi entregue ao medo, à violência e ao silêncio.
As investigações indicam que a mãe sabia de tudo — e, ao invés de impedir, teria participado.
As marcas deixadas não foram apenas físicas. Exames médicos apontaram sinais compatíveis com sofrimento prolongado.
Mas foi por meio de um diário, escrito pela própria vítima, que as autoridades tiveram acesso aos detalhes do que vinha sendo vivido entre quatro paredes.
Em um dos trechos do processo, a promotora foi enfática:
“Essa menina não merece viver mais nem um segundo de sua vida com medo.”
O homem apontado como autor principal dos abusos está foragido da região desde janeiro.
Segundo a apuração, ele teria cometido crimes semelhantes contra outras meninas.
Enquanto isso, o caso mobiliza cidades por onde o casal passou: São João Batista, Tijucas, Biguaçu, Nova Trento e o interior do Rio Grande do Sul.
Em todas, a rotina da família era marcada por mudanças constantes e sinais ignorados.
A prisão foi decretada para garantir a segurança da vítima, hoje uma adolescente.
Ela vive com medo e ainda tenta lidar com as memórias do que enfrentou. Para o Ministério Público, manter os suspeitos em liberdade representaria risco concreto de novas ameaças.
Agora, a mulher, que havia assumido outro cargo como professora em Nova Trento, se vê no centro de um processo que expõe um ciclo de abusos, omissões e abandono.
Silêncio, rotina e medo: o terror vivido pela vítima
No início, a menina tentou pedir ajuda. Procurou apoio. Mas foi ignorada. A mãe sabia — e nada fez. A cada nova cidade, o padrão se repetia.
O quarto virou cenário do medo. Luzes apagadas, portas trancadas e a certeza de que ninguém viria socorrer. A vítima relatou que era abusada quase todos os dias. Por anos.
Em Biguaçu, a situação foi ainda mais grave. A mãe a deixou sozinha com o agressor por dias. Ela foi obrigada a conviver com ele, trancada em uma casa. Segundo a denúncia, a mãe tinha pleno conhecimento do que acontecia.
O medo ia além dos abusos. Havia punições físicas por qualquer resistência. Cintos, fios, varas. A alimentação era negada como castigo. O corpo ferido era o mesmo que era explorado.
Trancada sozinha, ela decidiu reagir. Ligou para a avó paterna. Pela primeira vez, foi ouvida. Foi levada ao hospital. O exame médico confirmou os relatos. A adolescente também entregou um caderno com relatos escritos à mão.
Cada página do diário detalhava aquilo que ninguém quis enxergar. Datas, lugares, sensações. Um grito silencioso por socorro.
Nota de responsabilidade:
A identidade dos envolvidos não pode ser divulgada porque o caso envolve crimes sexuais contra menor de idade.
Conforme determina o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a legislação penal brasileira, qualquer informação que possa expor, identificar ou causar constrangimento à vítima deve ser preservada.
Essa proteção se estende também a nomes, imagens e qualquer detalhe que permita a associação direta à adolescente.
A omissão dos nomes neste conteúdo atende aos princípios legais e éticos do jornalismo, com o objetivo de proteger a integridade da vítima e evitar sua revitimização.