A dor de perder um filho é como uma ferida que nunca se fecha. Para os pais das crianças que foram mortas no ataque à creche Cantinho Bom Pastor, em Blumenau, no dia 5 de abril de 2023, o luto é uma realidade que continua impactando suas vidas.
Entre eles está Regina Maia, mãe de Larissa, uma das vítimas. Mais de um ano após a tragédia, a família encontrou um motivo para sorrir novamente com a chegada de Luísa Helena, filha caçula de Regina e Michel Borges.
Regina descobriu a gravidez poucos dias após completar um ano do atentado. “Eu descobri que estava grávida em abril, 10 dias depois do aniversário do ataque. Foi uma emoção muito grande. Eu e o pai desejávamos muito essa gravidez, ela foi planejada”, contou Regina em entrevista ao ND Mais.
Segundo ela, a notícia foi um misto de sentimentos. “Uma amiga estava comigo quando vi o teste positivo. Choramos muito e nos abraçamos. Foi um momento de felicidade intensa. O pai soube no dia seguinte, quando fiz uma revelação junto com os familiares”, relembrou.
Para Regina, a chegada de Luísa trouxe uma nova motivação para seguir em frente. “Luísa Helena é a resposta de Deus em minha vida. Depois de tanto sofrimento, gerar uma nova vida me deu força para continuar. Mas isso não apaga a dor ou a saudade. Ninguém substituirá a Larissa”, desabafou.
Uma gestação em meio ao luto
A gestação foi repleta de desafios, marcados pela dor da perda e pela alegria do recomeço. “Dizem que não podemos chorar para não passar esses sentimentos ao bebê, mas foi impossível evitar. Permiti-me viver todos os sentimentos, acolhi os dias mais tristes e de saudade intensa. Essa é a minha história e da minha filha, e ninguém vai apagá-la. A Luísa vai crescer sabendo de tudo”, afirmou.
O nome da caçula também carrega um significado especial. “Luísa era o nome de uma das bonecas favoritas da Larissa, que eu guardo até hoje. E Helena é o nome da minha mãe. Escolhemos esse nome antes mesmo da gravidez, como uma homenagem às duas”, explicou.
Um recomeço sem esquecer o passado
Mesmo com o recomeço trazido por Luísa, Regina garante que Larissa continua presente em todos os momentos. “Acreditamos que ela segue viva no plano espiritual. Temos fotos e objetos dela espalhados pela casa, e falamos sobre ela todos os dias. Isso foi essencial para a minha cura durante o luto”, contou.
Ainda assim, os meses anteriores à descoberta da gravidez foram especialmente difíceis. “Quando minha filha partiu, eu senti que morri junto. O maior desafio foi me reencontrar, aceitar o novo eu e continuar vivendo. A sociedade exige que sigamos em frente, mas eu nunca serei a mesma”, refletiu.
Apesar da dor, Regina se esforça para guardar as melhores lembranças de Larissa. “Sempre lembrarei dela sorrindo, feliz, me abraçando e dizendo o quanto nos amava. Vivemos sete anos intensos e felizes, e sou grata a Deus por isso”, disse emocionada.
Justiça e impunidade
Em agosto de 2024, o autor do ataque à creche foi julgado e condenado a 220 anos de prisão em regime fechado. Para Regina, o julgamento trouxe um misto de sentimentos. “Foi um júri de muitos sentimentos. Ver aquela pessoa que tirou a vida da minha filha e das outras crianças frente a frente foi desafiador”, afirmou.
Embora considere que a justiça foi feita, Regina reconhece que nada apagará a dor da perda. “Senti que um ciclo se encerrou, lutamos até o fim e conseguimos a condenação esperada. Mas o sentimento de impunidade fica, porque nada trará minha filha de volta”, desabafou.
Agora, Regina segue em frente com Luísa nos braços e Larissa no coração. “Sou grata a Deus por me permitir ser mãe novamente. Era um sonho ter uma irmãzinha, e sei que esse presente veio dela, do céu”, concluiu.