12/03/2024 às 10h29min - Atualizada em 12/03/2024 às 10h29min

Despedida de um super-herói: menino encerra batalha contra o câncer rodeado de amor em SC

Os pais de Arthur Moser, de 3 anos, decidiram tornar a partida do pequeno super-herói a mais humanizada possível

Fotos: Divulgação

Em fevereiro, o pequeno Arthur Moser, de 3 anos, encerrou bravamente sua luta contra o câncer. A história do menino super-herói foi marcada por aventuras dentro e fora de hospitais. Sua partida aconteceu da forma mais humanizada possível, rodeado de amor e carinho dos seus pais, avós, tios e amigos.

Diagnosticado com Sarcoma de Ewing Extra Ósseo em abril de 2023, a mãe de Arthur, conhecido como Tutu, decidiu tornar as etapas do tratamento do filho especiais, para que ele pudesse encarar a situação da melhor forma. O método lúdico contou com apoio de super-heróis e personagens queridos pelo menino.

Anandréia e o marido, Daniel Telles Moser, decidiram criar missões envolvendo a dinâmica de cada dia de quimioterapia, a fim de tornar o processo menos doloroso para o filho.

Por ser muito novo, Tutu não sabia exatamente quantos dias de tratamento ele tinha pela frente. Com o método lúdico, além de acompanhar as datas, ele também recebia recompensas por cada etapa cumprida.

Uma das recompensas foi a visita ao Arcanjo de Blumenau, onde o menino pôde sobrevoar a região utilizando uma roupa especial de bombeiro, profissão pela qual era apaixonado.

Diagnóstico de novo câncer pegou família de surpresa

Após o 8º ciclo de quimioterapia, Arthur foi encaminhado para fazer uma cirurgia de alto risco em Curitiba, no Paraná, que foi um sucesso. A família voltou para o Hospital Santa Catarina durante o 9º ciclo, foi quando sofreu outro baque. Na biópsia, foi confirmado um neuroblastoma.

“Aí começamos uma corrida contra o tempo para que Tutu passasse por um transplante de medula óssea, no caso dele um transplante autólogo, onde ele mesmo foi o doador”, explicou a mãe.

O transplante foi realizado no dia 18 de outubro e Arthur foi um dos recordes do hospital pela velocidade em que a medula “pegou”.

Apesar do momento de felicidade na busca pela cura do menino, tudo mudou no final de 2023. Um exame realizado no início de dezembro apontou que Tutu já estava sem o neuroblastoma, mas de forma repentina, descobriram que ainda tinham um longo caminho pela frente.

A mãe conta que já estava agendado o início da radioterapia para o dia 26 de dezembro e que, depois disso, ele faria a imunoterapia. Contudo, uma semana após a radioterapia, Tutu começou a sentir dores fortes nos rins. Aparentemente, eram linfonodos não doentes, mas que estavam causando obstrução.

A partir desta nova situação, a família enfrentou dias difíceis. Em uma corrida contra o tempo, eles foram para Curitiba, onde o menino foi submetido a uma cirurgia. Durante o procedimento, a médica percebeu que os linfonodos tinham características do câncer e o encaminhou para a biópsia.

“Nesse momento, ela também percebeu uma pequena nova massa próximo ao estômago. Eles tiraram uma amostra, fizeram um teste rápido e deu que era uma célula doente”, relembrou Anandréia.

Após a cirurgia, os pais foram informados que a doença de Tutu havia voltado, infelizmente, de forma rápida.

“Ali foi de novo aquele choque pra gente, nosso mundo desabou novamente e o Tutu ficou de 20 de dezembro até seu falecimento no hospital. A gente teve alguns momentos de saída, mas foi praticamente o tempo todo no hospital”, contou a mãe.

No dia 4 de janeiro, o pequeno fez uma quimioterapia de emergência, para tentar combater o avanço da recidiva do câncer, em Curitiba. Devido às fortes dores sofridas pelo menino durante o tratamento com remédios novos, seus pais tinham insegurança se continuavam o tratamento no Paraná ou se voltavam para Blumenau, pois estavam sozinhos naquele Estado.

Tutu voltou para Blumenau para continuar tratamento

A mãe do menino explicou que o protocolo de uma recidiva de neuroblastoma é que seja feita quimioterapia em conjunto com a imunoterapia. O medicamento utilizado na imunoterapia custa em torno de R$ 2 milhões e precisa ser solicitado junto ao governo.

Anandréia recorda que quando seu marido foi ver com o convênio de saúde sobre como proceder em relação à solicitação do medicamento, descobriu que a médica que atendeu Tutu em Santa Catarina já havia solicitado, sendo o mesmo aprovado.

“Tem pessoas que lutam por seis meses para conseguir e nós já tínhamos isso pronto, liberado. Pra gente foi um sinal de Deus, que era pra voltarmos para Blumenau”.

A mãe conta que sempre consultaram o filho para saber o que ele queria e, nesse caso, o menino optou por seguir com o tratamento em Blumenau. Prontamente, a família retornou para a cidade do Vale do Itajaí.

Com o novo diagnóstico, Anandréia disse que o tratamento lúdico não foi continuado, pois era tudo inesperado. Os dias se passaram e Tutu foi perdendo peso aos poucos, enfraquecendo. Ao terminarem o ciclo, a família foi para a casa da avó paterna do menino, localizada na cidade. Foram idas e vindas do hospital, até que ele foi internado novamente, após sentir muitas dores.

Uma bateria de exames foi feita, assim como uma tomografia, a qual apontou que os linfonodos haviam aumentado e descobriram a metástase no fígado. Apesar de enfrentar o tratamento agressivo, a doença de Tutu não regrediu, mas aumentou.

Os pais do pequeno tentaram usar medicamentos e diversas formas de manter o filho nutrido, mas nada estava fazendo efeito. Foi então que a médica conversou com eles e perguntou o que gostariam de fazer caso o menino sofresse uma intercorrência, surgindo a possibilidade da passagem humanizada.

“Naquele momento, sabíamos que não tínhamos mais o que fazer. A doença estava progredindo de forma muito rápida”, relembrou Anandréia.

Tutu, o super-herói, encerrou sua batalha rodeado de muito amor

A mãe do menino comenta que a conversa girou em torno da possibilidade dele sofrer uma parada cardíaca ou algo do tipo, com a opção de fazer massagem cardíaca. Porém, este tipo de manobra em crianças pode causar mais sofrimento, com perigo de fratura na região das costelas. “Nosso foco era conforto para ele, para ele não sentir dor”.

Em seus últimos dias, Tutu pediu para seus pais pintarem os cabelos coloridos, como os youtubers que ele assistia, e assim o fizeram, para alegrá-lo. O hospital também chamou o Homem de Ferro e o Homem Aranha para visitar o pequeno super-herói.

A médica ofereceu um quarto para o menino, fora da UTI (Unidade de Terapia Intensiva), para que pudesse receber visitas tranquilamente e ficar mais confortável.

Ao chegar no espaço, ele começou a dar sinais de que sua partida se aproximava. “Nós o colocamos na cama e ele ficava olhando para o vazio. Com os dois bracinhos, começou a fazer como se fosse uma asa de anjo, como se ele fosse voar. Foi muito lindo, embora tenha sido extremamente triste”, disse a mãe. “Eu e meu marido, a todo tempo, conversamos com ele, que ele poderia descansar, que ficaríamos bem”.

Aos poucos foram chegando no quarto os familiares e amigos de Tutu, para dar adeus ao pequeno. Depois de um tempo, apenas os pais ficaram com ele no ambiente, onde conversaram muito.

“Falamos que ele iria para um lugar bonito, que nós continuaríamos muito unidos, que íamos ser felizes e seguir a vida como ele sempre gostou”.

O casal colocou uma música para o menino ouvir, a mesma que ele escutava quando ainda estava na barriga da mãe. “Depois, nós pedimos para que Deus o recebesse e o acolhesse, que cuidasse dele. Nesse momento eu levantei ele da cama e o abracei bem forte e meu marido abraçou nós dois, depois nós trocamos de posição e eu abracei os dois juntos. Ele estava monitorado nesse momento, com os batimentos cardíacos”.

Tutu faleceu no colo de seus pais, abraçado e recebendo todo o amor deles. “Embora triste, um momento difícil, foi muito lindo, porque ele não teve dor, ele confiou, acreditou no que nós dissemos para ele e conseguiu descansar”, destacou Anandréia.

Ela conta que não podiam mais ver o filho sofrendo daquela forma e por isso optaram por deixá-lo partir da forma mais humanizada possível, recebendo carinho e amor das pessoas.

“O hospital teve a sensibilidade de nos colocar em um quarto com janela, para que a gente pudesse ver o céu. A gente teve nosso momento com ele, a família pôde se despedir antes e foi uma partida sem dor”.

Apesar de toda a tristeza em dizer adeus ao filho, os pais precisavam que ele soubesse que estariam bem, que poderia descansar em paz. “Naquele momento pensamos ‘não sei como a gente vai viver sem ele, mas o libertamos do sofrimento”.

Cerimônia de despedida foi marcada por muita emoção

As homenagens para Tutu foram recheadas de momentos simbólicos e bonitos, a despedida correta para um verdadeiro super-herói.

Os pais pediram para que as pessoas fossem dar o último adeus usando roupas de personagens e heróis, os preferidos do filho. Os bombeiros também fizeram um lindo tributo para o pequeno.

“O Tutu desfilou com o carro aberto na Magirus, mobilizou tudo em Balneário Camboriú, os batedores fecharam a rua para ele passar. Teve um cortejo lindíssimo, ganhou uma bandeira de Santa Catarina assinada por todos eles. O cortejo passou com todos os bombeiros batendo continência para ele, foi a coisa mais linda de se ver”, relembrou a mãe.

“Foi muito triste perder o Arthur, mas eu sabia que ele não queria ver ninguém triste, o importante para ele era sempre estar reunido dos amigos”, destacou.

Tutu foi cremado e mais uma bela homenagem foi feita. Suas cinzas foram jogadas de cima da escada Magirus do Corpo de Bombeiros Militar, no quartel, o qual ele dizia fazer parte.

“Foi tudo muito lindo, uma homenagem mais linda que a outra, todo mundo se encantou e se apaixonou pela história do Arthur do início ao fim. Sou muito grata por ter podido proporcionar tudo isso para ele. Eu falo que o Arthur nunca se revoltou durante a doença dele, então eu também não me sinto no direito de me revoltar. A gente tem plena certeza de que nós fizemos tudo o que podíamos. Tutu tinha uma missão, ele veio e cumpriu a missão da forma mais grandiosa que podia. Amar é isso, deixar partir, pois não queríamos vê-lo sofrer”, pontuou Anandréia.

Arthur Moser partiu após meses de uma grande batalha contra o câncer. Sua alegria e paixão por grandes personagens e super-heróis transpareceram o que ele de fato era, um grande guerreiro. Ao final de sua jornada, Tutu deixou sua marca na vida de diversas pessoas, que puderam aprender mais sobre as belezas da vida com ele.







Fonte: ND+


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