O legado permanece. Em breve a Polícia Militar de Santa Catarina (PMSC) contará com mais um herói: este em específico, de uma forma um pouco mais que especial.
Aos 29 anos, o jovem Domingos, de Criciúma, aluno-soldado da PMSC, inspirado pelo pai, realiza o curso de formação de praças da corporação.
Ele é filho do cabo Joel Domingos, morto aos 31 anos por criminosos que assaltaram o extinto Unibanco, na tarde de 26 de agosto de 2003, na Avenida Centenário, área central de Criciúma.
O cabo Joel chegou a ser internado, mas a luta pela vida durou até o dia 9 de setembro daquele ano, quase 15 dias depois do roubo.
Na ação também veio a óbito o cabo Sérgio Buratti, de 40 anos.
O cabo Burati e o cabo Domingos, somavam 19 e oito anos de serviços prestados à PM, respectivamente. Eles integram a galeria de rol de heróis do 9º Batalhão de Polícia Militar de Criciúma.
O crime, naquela tarde de terça-feira, protagonizado por uma quadrilha interestadual fortemente armada, deixou um rastro de medo na cidade e mudou a segurança das agências bancárias na região.
Além de duas armas dos vigilantes e do celular de uma funcionária, a quadrilha levou a vida dos soldados, promovidos a cabo após a morte. O assalto também resultou em quatro pessoas feridas, mas sem gravidade.
A ação deixou ainda outro policial ferido. O cabo Marlon Bússolo, aos 38 anos, foi atingido no ombro e sobreviveu.
Ele era motorista da viatura, e, bastante abalado com a situação, aposentou-se logo depois.
A maior tragédia
O aluno-soldado Domingos tinha apenas oito anos quando perdeu o pai.
“A maior tragédia da minha vida. Cresci admirando meu pai e tendo ele como herói. Ter um pai policial é motivo de muito orgulho”, disse.
Mesmo com a infância marcada pela tragédia, o sonho de ser policial continuou em seu coração.
“Quando iniciei o estudo para o concurso houve um impacto em minha família devido ao fato ocorrido. Ser aprovado foi uma grande conquista, mas também a realização de um sonho, uma missão de vida e uma homenagem ao meu pai. É como se ele estivesse presente, guiando-me para seguir o legado dele. A mesma farda que meu pai honrou até o fim será a mesma que vestirei com orgulho e entrega total”, ressaltou.
Assista ao vídeo:
A ocorrência
Os então soldados Burati e Domingos e o cabo Marlon Bússolo chegaram na ocorrência de viatura, um furgão, do setor de trânsito, pela parte da frente da agência, posicionando-se atrás da plataforma de ônibus, que serviria de escudo, caso houvesse a reação dos bandidos.
E houve. Eles nem imaginavam que, em cima da plataforma, dois homens armados com fuzis camuflados dentro de capas de violão e guitarra, que faziam a função de “olheiros”, atirariam contra os militares.
Ao sair da viatura, o soldado Burati foi alvejado na nuca, não resistindo ao ferimento.
Domingos, também alvejado, foi encaminhado pelos bombeiros ao hospital, onde veio a óbito duas semanas depois.
Imediatamente após o confronto com a polícia, com mais de 200 tiros, os criminosos fugiram em uma camionete Ranger preta, que havia sido tomada de assalto três dias antes em Sombrio e que foi encontrada abandonada depois no bairro Santo Antônio.
Sentença
Em 2007, oito criminosos, presos em diversas regiões do país, foram condenados. As penas chegaram a 29 anos de prisão.
Outros cinco envolvidos, que teriam participação no crime, ainda não teriam sido identificados.
A sentença foi proferida pelo juiz Rubens Salfer e, a investigação, pelo delegado Carlos Emílio da Silva. O processo já está arquivado.