Nesta segunda-feira, o programa Manhã News apresentado por Clésio Salvaro, transmitido pelas rádios do grupo Jovem Pan News (101.5 FM e 95.9 FM) e agora também pela Rádio Vertical (97.7 FM), recebeu o cirurgião cardíaco Dr. Ricardo Choma. Em um formato de "telessaúde" ao vivo, o especialista, que já realizou mais de oito mil cirurgias, respondeu a perguntas dos ouvintes, abordando desde a prevenção até tratamentos complexos e o impacto das novas tecnologias na medicina.
Confira abaixo os principais tópicos da entrevista, organizados em perguntas e respostas para facilitar a sua leitura.
Como a tecnologia, como a telemedicina e a inteligência artificial, está transformando o atendimento médico?
Dr. Ricardo Choma: A tecnologia veio para ficar e deve ser incluída nos tratamentos de saúde. A telemedicina, por exemplo, já me permitiu atender pacientes brasileiros que moram nos Estados Unidos e na Itália. É uma ferramenta poderosa para orientar, tirar dúvidas e analisar exames à distância. Grandes hospitais, como o Albert Einstein, já oferecem esse tipo de atendimento especializado. Além disso, a inteligência artificial (IA) já faz parte do nosso dia a dia, como na correção ortográfica do WhatsApp, e na medicina, ela nos auxilia em pesquisas sobre doenças raras, tornando a busca por informações científicas mais precisa e ágil.
A tecnologia substitui o médico?
Dr. Ricardo Choma: Não. O médico é insubstituível. Uma consulta e um tratamento envolvem vários componentes que a tecnologia, por si só, não cobre. A IA é uma ferramenta de auxílio, mas as pessoas não devem se automedicar com base nela. A tecnologia facilita, mas o contato humano e a avaliação clínica são fundamentais.
Um ouvinte relatou ter tido um AVC causado por um Forame Oval Patente (FOP). O que é isso e qual o risco?
Dr. Ricardo Choma: O Forame Oval Patente é um orifício entre os lados direito e esquerdo do coração que deveria ter fechado após o nascimento. Em algumas pessoas, ele permanece aberto. O grande risco é quando um coágulo passa por esse orifício, vai para o cérebro e causa um AVC. O tratamento indicado é o fechamento desse orifício, que hoje é feito de forma minimamente invasiva, por cateterismo. É um procedimento de baixo risco, sem a necessidade de abrir o peito.
O frio do inverno realmente aumenta o risco de infarto?
Dr. Ricardo Choma: Sim. O frio provoca a contração dos vasos sanguíneos (vasoconstrição), o que tende a aumentar a pressão arterial. É no inverno que os infartos e derrames mais acontecem. Além do fator fisiológico, nessa época as pessoas tendem a consumir alimentos mais calóricos, com mais sal e gordura, o que agrava o risco.
A genética influencia o risco de doenças cardíacas? É possível mudar um histórico familiar?
Dr. Ricardo Choma: A genética tem uma influência forte, principalmente quando familiares de primeiro grau (pai, mãe, irmãos) tiveram infarto ou morte súbita antes dos 50 anos. Nesses casos, a atenção deve ser redobrada. Acima dos 60 anos, o histórico pode estar mais relacionado a hábitos de vida compartilhados pela família do que à genética. A boa notícia é que você pode mudar essa história. Com disciplina, alimentação saudável e atividade física, é possível quebrar o ciclo e proteger sua saúde.
O que é o "Escore de Cálcio" e o que significa um resultado alto?
Dr. Ricardo Choma: O Escore de Cálcio é um exame de tomografia que mede a quantidade de cálcio presente nas artérias do coração. Um resultado alto indica que há um processo de calcificação (aterosclerose) e serve como um grande alerta. O exame compara seus níveis com a média de pessoas de diferentes idades. Se você tem 40 anos e seu resultado é compatível com o de alguém de 80, significa que o nível de cálcio em suas artérias é elevado para a sua idade. Não significa que você vai infartar amanhã, mas é um sinal claro de que você precisa mudar seus hábitos de vida e, possivelmente, iniciar um tratamento com medicamentos, como as estatinas, para controlar esse processo.
Quais são os principais sintomas de um infarto que não podemos ignorar?
Dr. Ricardo Choma: É importante saber que cerca de 30% das pessoas sentem os sinais clássicos, mas muitas não sentem nada. A dor típica do infarto é descrita como um aperto, peso ou compressão no peito, como se "alguém estivesse pisando em cima". Essa dor pode irradiar para o pescoço, mandíbula ou braço esquerdo. Geralmente, ela surge durante um esforço físico ou um momento de estresse. Outro sinal de alerta é a mudança na capacidade física: se antes você caminhava cinco quarteirões sem problemas e agora se cansa com 100 metros, algo mudou e precisa ser investigado. Uma dor no peito que sobe para a garganta, causando uma sensação de sufocamento, também é um sintoma clássico de angina e requer atenção imediata.
Qual a principal orientação sobre alimentação para proteger o coração, especialmente no inverno?
Dr. Ricardo Choma: A prevenção começa no supermercado. Não vá com fome, pois isso influencia suas escolhas. Opte por alimentos saudáveis. Uma dica prática para as refeições, como o almoço, é começar sempre com um prato farto de salada. Isso ocupa um espaço no estômago com algo de baixa caloria, diminuindo o espaço para alimentos mais pesados. Outro detalhe importante é o tamanho do prato ou da tigela. Usar um prato menor dá a sensação de saciedade com menos comida. E, claro, modere o consumo de carboidratos (trigo, pães, massas) e açúcares.
Uma ouvinte relatou medo de fazer a cirurgia para colocar um marca-passo. É um procedimento de risco?
Dr. Ricardo Choma: As pessoas costumam associar qualquer cirurgia no coração a um procedimento de peito aberto e alto risco. A cirurgia de marca-passo é muito diferente. É um procedimento considerado de baixo risco, feito através de um cateterismo em uma veia, geralmente sob o ombro. Por meio dessa veia, levamos os eletrodos do marca-passo até o coração, sem a necessidade de abrir o tórax. A recuperação é rápida e o procedimento é muito seguro.
Com certeza. Aqui está a segunda parte da matéria jornalística, seguindo o mesmo formato de perguntas e respostas com base na continuação da entrevista.
Qual o risco de uma cirurgia de marca-passo e o que acontece se o paciente se recusar a fazer o procedimento recomendado?
Dr. Ricardo Choma: A cirurgia de marca-passo é muito segura, com um risco em torno de 1%. É um procedimento simples, feito debaixo da pele, próximo à clavícula, e o paciente pode ir para casa no mesmo dia, retomando a vida normal. Se um médico indica o marca-passo, não é apenas para melhorar a qualidade de vida, mas para preservar a vida. Insistir em não colocar o dispositivo não leva diretamente a um infarto, mas pode evoluir para consequências graves como uma parada cardíaca ou uma insuficiência cardíaca (o "coração inchado"). Essencialmente, a pessoa viverá menos. Um médico nunca indica uma cirurgia sem um forte embasamento científico, pois o objetivo é sempre que o risco de operar seja muito menor que o risco de não operar.
A qualidade do atendimento cardíaco na região de Criciúma se compara à dos grandes centros como São Paulo ou Porto Alegre?
Dr. Ricardo Choma: Sim, e eu diria que em muitos aspectos é até superior. Às vezes, as pessoas acham que precisam ir para uma capital para ter o melhor tratamento, mas temos aqui na região praticamente tudo o que há de mais moderno em termos de tecnologia e qualidade em cirurgia do coração. Os hospitais estão muito bem equipados. Além disso, o atendimento aqui é muito mais personalizado. Em um grande centro, você pode ser mais um número; aqui, o cuidado é mais próximo, mais "caseiro", o que faz uma grande diferença na recuperação.
As emoções de um jogo de futebol, como torcer para o Criciúma E.C. (Tigre), podem realmente fazer mal ao coração?
Dr. Ricardo Choma: Sim, é um ponto importante. O futebol no Brasil mexe com muitas emoções, o que naturalmente eleva a pressão arterial. O perigo está na combinação de fatores: a pessoa se emociona, a pressão sobe, mas ela esqueceu de tomar o remédio da pressão naquele dia. Além disso, consome carne salgada no churrasco e bebe álcool. Essa combinação de estresse emocional, sal e álcool, sem a medicação adequada, aumenta a chance de "dar ruim". É preciso ter cuidado.
É perigoso fazer exercícios no frio? Qual o melhor horário?
Dr. Ricardo Choma: Não há um horário específico que seja melhor ou pior. O importante é não usar o frio como desculpa para não se exercitar. O correto é sair para a atividade física bem agasalhado. Eu garanto: é mais perigoso ficar parado no sofá do que se exercitar no frio.
Temos visto notícias de jovens sofrendo infartos. Isso é genético ou há outro fator preocupante?
Dr. Ricardo Choma: O que temos visto muito em jovens não são infartos clássicos (por acúmulo de placas de gordura), mas sim outros problemas cardíacos graves, como arritmias e paradas cardíacas. Uma das principais causas hoje é o uso indiscriminado de hormônios (anabolizantes), muitas vezes vendidos como "naturais", para ganho de massa muscular. Já tivemos casos de mortes de jovens de academia aqui em Criciúma por conta disso. É um problema muito grave e que vem crescendo. Um corpo atlético não é sinônimo de coração saudável, especialmente se for construído com base em substâncias perigosas.
Pressão alta causa dor no peito?
Dr. Ricardo Choma: Não deveria. A hipertensão é uma doença silenciosa. Quando a pessoa começa a sentir sintomas como dor na nuca ou peso no corpo, é sinal de que a pressão já está alta há muito tempo. Não confie nos sintomas para saber se sua pressão está alta. O ideal é medir regularmente com um aparelho confiável, que pode ser comprado em qualquer farmácia.
Qual a diferença entre um AVC e um aneurisma?
Dr. Ricardo Choma: O AVC (Acidente Vascular Cerebral) ocorre quando uma artéria do cérebro é bloqueada, interrompendo a circulação de sangue. É, na prática, um "infarto cerebral". O termo infarto significa a morte de um tecido por falta de sangue, e pode ocorrer em qualquer órgão (coração, perna, cérebro). Já o aneurisma é uma dilatação anormal de um vaso sanguíneo. Ambos podem ocorrer no cérebro, mas são problemas diferentes.
É verdade que quem começa a tomar remédio para pressão alta nunca mais para?
Dr. Ricardo Choma: Isso não é verdade, e é um ponto muito interessante. A maioria das pessoas toma o remédio a vida inteira porque não muda o que estava causando a pressão alta. Mas se você mudar seu estilo de vida — perder peso, fazer atividade física, controlar o estresse — é totalmente possível que sua pressão se normalize e, com acompanhamento médico, você possa deixar de tomar a medicação. Conheço vários pacientes que, ao perderem 15, 20 quilos, abandonaram os remédios de pressão e diabetes. Mas a decisão de parar deve ser sempre do seu médico. Nunca abandone o tratamento por conta própria.
O Manhã News vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 10h às 11h, na Jovem Pan News 101,5 FM e na Vertical 97.7FM , com transmissão simultânea nas redes sociais.