02/09/2025 às 15h10min - Atualizada em 02/09/2025 às 15h10min

De imigrante a líder: como Pedro Benedet mudou o destino de Criciúma

O nome do “Coronel Pedro Benedet” está ligado ao início da colonização de Criciúma, em 6 de janeiro de 1880, data escolhida como marco de chegada dos imigrantes italianos à Colônia de São José de Cresciúma. Reconhecido desde jovem como liderança entre os colonos, Benedet prosperou, construiu patrimônio e teve papel central na organização na vida comunitária dos primeiros imigrantes.

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Pedro Benedet

O imigrante Pedro Benedet

Pietro Benedet, filho de Lorenzo Benedet e Regina Sônego, nasceu em 6 de janeiro de 1864, em Conegliano, província de Treviso, na Itália. Ao final de  1879, aos 14 anos, partiu para o Brasil acompanhado dos pais, irmãos e de uma leva de imigrantes italianos.

Os imigrantes chegaram inicialmente em Urussanga, mas um pequeno grupo de 30 famílias, entre eles Pedro Benedet, preferiu seguir adiante e se estabeleceu em uma colônia no interior de Araranguá, dando origem à Colônia de São José de Cresciúma, atual município.

Em sua vida familiar, Pedro casou-se com Antonia Martinello Benedet, com quem teve 15 filhos. A rua que hoje leva seu nome era cercada por terrenos de sua propriedade. Foi ali, em um imponente casarão construído na esquina, que ele iniciou sua vida familiar e criou seus filhos.

Pedro Benedet foi um dos líderes dos primeiros colonos italianos a chegarem em Criciúma. Sua postura de liderança, reconhecida desde jovem, fez com que recebesse o título simbólico de “Coronel”, concedido pelos próprios colonos em reconhecimento à sua atuação no enfrentamento das dificuldades iniciais da colonização e na preparação do caminho para a futura emancipação do município.

Pedro Benedet teve participação ativa nas articulações que resultaram na emancipação de Criciúma, o que o levou a assumir a presidência da recém-criada Câmara Municipal, tornando-se o primeiro conselheiro (presidente) na legislatura de 1926 a 1928.

Na área empresarial, fundou diversas empresas, entre elas a Sociedade Carbonífera Próspera Ltda., da qual foi sócio-cotista ao lado de empresários como Marcos Rovaris, Frederico Minatto e Francisco Meller. Além disso, exerceu a função de Agente Postal e, em parceria com Marcos Rovaris, foi responsável pela fundação do jornal O Mineiro.

Comissão White

Um dos momentos marcantes da trajetória de Pedro Benedet foi ter hospedado, em sua residência, a Comissão White, em 1904. O grupo, chefiado pelo geólogo norte-americano Israel Charles White, de Morgantown (Virgínia Ocidental), veio ao Brasil a convite do catarinense Lauro Müller, então Ministro da Viação do Governo Federal.

Com o carvão mineral recém-descoberto na região já sendo utilizado em pequenas forjarias, Lauro Müller solicitou ao Ministério da Indústria, Comércio e Obras Públicas a criação de uma comissão para estudar o potencial do carvão nacional. Assim, em 23 de junho de 1904, foi instituída oficialmente a “Comissão de Estudos do Carvão Nacional”, que entrou para a história como Comissão White.

Os trabalhos de levantamento e elaboração de relatórios foram realizados em Criciúma e, em grande parte, redigidos na casa de Pedro Benedet. Esses documentos se tornaram a base para a prospecção e o desenvolvimento da atividade carbonífera em Santa Catarina, consolidando a importância da região no cenário nacional.

Homenagens

O legado de Pedro Benedet também está marcado na geografia urbana de Criciúma. Uma das principais ruas do centro da cidade leva o seu nome, a Rua Coronel Pedro Benedet. A via, que em suas origens atravessava terras de sua propriedade, foi durante muito tempo o caminho que ligava Criciúma à Urussanga e, ao longo dos anos, consolidou-se como um dos eixos centrais da cidade.

Em 4 de janeiro de 2014, o município de Criciúma homenageou os 150 anos de nascimento de Pedro Benedet com a inauguração de um busto na Praça Vittorio Veneto, no centro. A homenagem reafirmou o reconhecimento da cidade à figura de um de seus mais importantes líderes, cuja trajetória esteve diretamente ligada à colonização e ao desenvolvimento do município.

A trajetória de Pedro Benedet deixou raízes profundas em Criciúma. Sua memória permanece viva nos registros oficiais, nos espaços que levam seu nome e na identidade cultural da cidade, como símbolo de determinação e compromisso comunitário.

Benedet faleceu em 08 de janeiro de 1941 e está sepultado no cemitério municipal de Criciúma.

 

A neta Gilda Benedet

Aos 92 anos, Gilda Benedet guarda na memória lembranças vívidas com o avô, Pedro Benedet. Moradora da mesma rua onde passou parte da infância ao lado dele, ela compartilha histórias de família que atravessam gerações e ajudam a compreender a importância da figura do avô na formação da cidade.

O nono era comerciante e nós moramos com ele na casa da esquina. Duas portas da casa eram da venda de secos e molhados e duas eram da nossa casa”, lembra Gilda, que conviveu com o avô até os oito anos, quando ele veio a falecer.  “Papai foi o último filho dele que casou, nós éramos em quatro irmãos e eu ainda tenho um irmão de 96 anos”, conta.  Além de comerciante, conta que seu avô tinha uma fábrica de banha e outra de vassouras.

Gilda Benedet nasceu em Criciúma em 19 de outubro de 1932, filha de Gracioso Benedet e Lucia Tomazzi. Viveu durante 16 anos na casa do avô, Pedro Benedet, onde permaneceu com a mãe e os irmãos, mesmo após o falecimento do pai. A família deixou a residência depois da morte da nona Antônia, quando mudaram para uma casa vizinha.

 “Ali era uma chácara”, recorda. Em frente havia um campo, por onde Gilda passava diariamente a caminho da Igreja São José, para assistir a missa, e do Colégio Lapagesse, onde estudava. Esse campo, com o tempo, deu lugar à atual Praça Nereu Ramos.


No local onde ficava a casa do avô, foi erguido o prédio das Empresas Guglielmi. Já a segunda casa em que Gilda morou com a família foi substituída pelo edifício que atualmente abriga as Lojas Fretta, na mesma rua.

Aos 92 anos, Gilda mantém-se ativa e bem-humorada, diz que “vive na rua e dorme em casa”. Moradora de um apartamento na rua Cel. Pedro Benedet, ela declara ter orgulho de viver no endereço que leva o nome do avô, onde construiu sua história e acompanhou o crescimento da cidade.

Gilda nunca se casou e dedicou a vida ao magistério. Estudou no Colégio Lapagesse, formou-se em 1948 no Curso Normal Regional e começou a lecionar no Sangão. Mais tarde, concluiu o Curso de Normalista no Ginásio Madre Tereza Michel e, por fim, graduou-se em Filosofia, Ciências e Letras na Faculdade de Bagé (RS), lembrando sempre das longas viagens até lá.

Entre as muitas lembranças que guarda, Gilda conta que o terreno onde hoje está a Fundação Cultural de Criciúma, pertencia a seu avô e seria destinado à construção do Colégio Lapagesse. Recorda ainda a presença do “exército na cidade” durante a guerra e o episódio em que “os retratos do Rei Emanuel” precisaram ser retirados das paredes.

Com carinho, rememora também a rua Henrique Lage, onde havia uma grande “pedra de mó dos Bristot para fazer farinha”. O milho era colhido já bem maduro e levado até lá para o processamento. Outro ponto marcante era o “mercado da cidade”, de Abílio Zilli, “onde a gente comprava de caderneta”.

Além da carreira no magistério e da atuação como catequista, Gilda também se dedicou à música. É coralista da Associação Coral de Criciúma e integrante da ATUPAM (Associação Turma Unida para Auxiliar Menores), onde, junto às amigas do grupo, confecciona enxovais de bebês para o Hospital Materno Infantil Santa Catarina. Sobre o grupo, lembra com emoção “É meu compromisso de todas as terças-feiras, onde sou a única remanescente.”


Das viagens, recorda que a primeira aconteceu aos 52 anos, logo após se aposentar, quando passou 40 dias na Europa. “Me aposentei em fevereiro de 1982 e viajei em março”, conta. Nesse roteiro, conheceu Conegliano, no Vêneto, “porque foi de lá que veio a nossa família”.

A partir daí, vieram muitas outras viagens: Rússia, Marrocos, Egito, Israel, Roma, Áustria, Itália. Inclusive visitando 13 sobrinhos que vivem na Itália. “Os bisos vieram e os bisnetos estão voltando”, relata com um olhar meio distante.

Um legado que atravessa gerações

O tempo pode transformar paisagens e apagar datas do calendário, mas não é capaz de silenciar as raízes que sustentam a memória de um povo.

Pedro Benedet, pioneiro e um dos fundadores de Criciúma, partiu em 1941, mas sua presença continua viva na história da cidade, na rua que leva seu nome e, sobretudo, nas lembranças guardadas por sua família. Pela voz serena de sua neta Gilda, testemunha de quase um século de transformações, esse legado ganha vida e se renova.

Um passado que permanece presente, inspirando gerações a continuar escrevendo, com orgulho, a história da cidade.

 

Contribuição Jornalística: Joice Quadros. 

 

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