23/06/2025 às 15h46min - Atualizada em 23/06/2025 às 15h46min

Dizelda Coral Benedet: A primeira mulher eleita vereadora de Criciúma

  • Ir para GoogleNews

Aos 89 anos, Dizelda Coral Benedet carrega um legado construído com coragem, planejamento e empatia. Natural de Nova Veneza, filha de agricultores, desde cedo mostrou preocupação com o próximo. Ainda criança, dividia seus lanches com colegas da escola que não tinham o que comer. Foi aos 12 anos que começou a sonhar com uma instituição voltada para crianças em situação de vulnerabilidade. E transformou esse sonho em realidade ao longo de uma vida dedicada à educação, à assistência social e à construção de políticas públicas em Criciúma.

Formada em Pedagogia pela UNESC e com especialização em Turismo pela PUC de Porto Alegre, Dona Dizelda é também filósofa e cientista. Mesmo na terceira idade, segue estudando e frequenta uma universidade em Tubarão. Apesar de suas raízes serem de Nova Veneza, foi em Criciúma que fincou seus maiores vínculos, cidade onde recebeu o título de Cidadã Criciumense e construiu seu legado.

Acompanhando os pais, dona Dizelda foi para Maringá no Paraná. Lá casou-se com Zeferino Benedet, com quem teve quatro filhos (dois biológicos e dois adotivos), e retornou a Criciúma, cidade onde se destacaria nas áreas da educação, saúde e assistência social.

Em 1973, foi convidada por Dona Zulma Manique Barreto, então primeira-dama de Criciúma, a integrar voluntariamente ações da AFASC (Associação Feminina de Assistência Social de Criciúma), com foco na retirada de crianças e moradores das ruas. Desde então, tornou-se presença constante em iniciativas transformadoras, ajudando a consolidar programas que até hoje fazem parte da estrutura municipal: creches, clubes de mães, fortalecimento comunitário e o protagonismo feminino na assistência social.

Sua atuação no Bairro da Juventude, ao lado do então presidente Edson Gaindzinski, foi marcante. Como secretária executiva, ampliou o atendimento a crianças e adolescentes e, por meio de convênio com Genebra (Suíça), trouxe recursos para a implementação de cursos profissionalizantes, um marco para a região sul catarinense.

Em 1982, lançou-se candidata a vereadora pelo PMDB e fez história: tornou-se a primeira mulher eleita vereadora de Criciúma, com expressiva votação de 1.665 votos, sendo a vereadora mais votada naquele pleito. Embora eleita para o mandato de 1983 a 1988, passou a maior parte do período à frente de secretárias municipais, assumindo sua cadeira no Legislativo apenas nos últimos anos.

Logo no início do mandato, foi convidada pelo então prefeito eleito, José Augusto Hülse, a assumir a Secretaria de Saúde e Promoção Social. Lá, organizou os departamentos de Saúde, Habitação e Assistência, reestruturou 62 associações de moradores e fortaleceu os centros comunitários, antes conhecidos em algumas localidades como "Associação de amigos".

Fez curso em São Paulo na área de saúde pública e defendeu, em Brasília, a municipalização da merenda escolar, destacando que Criciúma tinha estrutura agrícola suficiente para abastecer suas escolas com produtos dos próprios agricultores locais, uma proposta que teve êxito.

Nos últimos dois anos passou a ocupar sua cadeira na Câmara de Vereadores, encerrando o mandato como líder de governo.Entre suas iniciativas no Legislativo, destacam-se a preservação da Gruta Nossa Senhora de Lourdes, no Bairro Lote 6, e a implantação da educação para o trânsito nas escolas da rede municipal.

A convite do governador Pedro Ivo Campos, assumiu um cargo na FUCABEM, órgão estadual responsável pelo atendimento a jovens em conflito com a lei. Defendeu, entre outras ações, a descentralização das políticas públicas para a esfera municipal.

Depois dessa fase, especializou-se em turismo, área pela qual mantém entusiasmo até hoje. Para ela, o sul catarinense é um polo riquíssimo em belezas e potencialidades ainda pouco exploradas.

Em 2023, a  Câmara Municipal homenageou as vereadoras mulheres da cidade  e dona Dizelda como a primeira mulher a figurar na galeria feminina do Legislativo criciumense.

 

Viúva há 23 anos e avó de seis netos, Dona Dizelda continua sendo uma referência viva de ética, liderança e compromisso com a comunidade. Sua trajetória é marcada por ação, planejamento e verdade. Como ela mesma resume:

“Uma coisa é você ter dignidade e ser verdadeiro. As pessoas acreditavam muito que eu fazia, porque quando eu dizia que ia fazer, eu fazia. E isso é muito importante para a comunidade.”

E deixou sua mensagem à cidade que celebra 100 anos de emancipação:

“Quero parabenizar pelos 100 anos de emancipação e dizer que a coletividade criciumense está de parabéns pelos excelentes trabalhos e atividades desenvolvidas em todos os setores de Criciúma. A cidade ocupa hoje uma posição privilegiada nas duas microrregiões, e isso é de grande relevância para toda a comunidade. Desejo muito sucesso e que esse protagonismo continue, tornando os próximos anos ainda melhores. Parabéns a toda Criciúma e à região sul de Santa Catarina!”

 

 

Veja outras matérias deste projeto

[1] 100 anos de histórias e memórias que merecem ser lembradas

[2] Da colonização à emancipação: 100 anos de histórias e memórias que merecem ser lembradas

 

  • Ir para GoogleNews
Leia Também »