Nascida em 20 de outubro de 1944, em uma colônia de imigrantes italianos, Maria Dal Farra cresceu em um ambiente onde a língua de origem dos imigrantes era o idioma predominante. Filha, neta e bisneta de imigrantes, aprendeu a falar o italiano antes mesmo de começar a frequentar a escola, onde só então teve contato com a língua portuguesa, que, por lei na época, era a única permitida no ambiente escolar.
Sua infância foi vivida na Linha Ex-Patrimônio, uma comunidade de Siderópolis, distante cerca de dois quilômetros e meio da escola onde estudava. A locomoção era feita a pé, numa época em que o transporte público era inexistente, exigia muita disposição e determinação. Com o incentivo da mãe, que também era professora na comunidade há mais de 20 anos, Maria seguiu adiante, contrariando a realidade da maioria das crianças que paravam seus estudos no terceiro ano para trabalhar na roça.
Formada em Ciências Biológicas, com habilitação em Biologia, Dona Maria iniciou sua carreira docente muito jovem, aos 18 anos. Sua trajetória na área da educação é marcada por mais de três décadas de dedicação, principalmente na UNESC, onde atuou como professora, assessora pedagógica na área da saúde e, por fim, assessora da reitoria até sua aposentadoria, em 2012.
A vida pessoal também trouxe grandes desafios. Em 1984, o marido de Maria sofreu um grave acidente de carro que mudou os rumos da família. Com múltiplas fraturas e sequelas que exigiram longos tratamentos e várias cirurgias em diferentes cidades, ele precisou do apoio constante da esposa e dos filhos, que assumiram papéis fundamentais no cuidado e suporte. Maria destaca que, mesmo com mobilidade reduzida, seu marido manteve-se presente e participativo na vida familiar, enquanto ela conciliava a carreira profissional e a luta pela sobrevivência da família.
Os três filhos do casal seguiram caminhos de sucesso, todos formados, o que para Maria representa a concretização de uma promessa feita em meio às dificuldades: garantir que eles teriam educação e condições para um futuro digno. A primogênita, Susana, (in memoriam) tornou-se jornalista e autora do livro “Eu Escolho Ser Feliz”, no qual narra sua experiência com o câncer e destaca a figura forte da mãe, que, segundo ela, era “mais brava que o pai”.
Além da atuação na sala de aula, Dona Maria sempre esteve envolvida na defesa da categoria dos professores. Participou ativamente da fundação da PROASC (Professores Associados do Sul Catarinense), movimento que conquistou avanços importantes para a valorização dos educadores. A atuação direta a levou a ter uma visão crítica sobre a política tradicional, mas também a perceber a necessidade de participação para transformar a realidade da educação.
Foi assim que, mesmo relutante no início, aceitou o convite para se filiar ao PSDB e participar do processo de fundação do partido em Santa Catarina. Continuou exercendo sua profissão com dedicação, mas também com a responsabilidade de representar os interesses dos educadores na esfera política.
Ao longo de sua vida, Maria Dal Farra construiu um legado que ultrapassa a sala de aula. Sua história é marcada pela luta, pela valorização da educação, pela superação das adversidades pessoais e pela busca constante por justiça social. A professora que começou seus estudos em uma pequena colônia italiana hoje é lembrada por muitos alunos e colegas como uma referência de compromisso, força e amor pelo ensino. Ela não mediu esforços para lutar e permanecer alegre mesmo diante das dificuldades:
“Não se pode se entregar às desilusões da vida. A vida é bonita e cheia de possibilidades, só precisamos saber escolher como olhar para ela” - comenta.
Sua entrada na política foi movida pelo desejo de transformar a realidade educacional da região. Em 1992, foi eleita vereadora de Criciúma, exercendo seu mandato até 1996. Logo em seguida, fez história ao se tornar a primeira mulher eleita vice-prefeita do município para o período de 1997 à 2000, junto ao prefeito Paulo Meller. Um marco para o poder executivo da cidade. Antes disso, já havia exercido a função de Secretária Municipal de Educação (1985 a 1986), período em que fortaleceu políticas públicas voltadas à área.
Além das contribuições no campo educacional, Maria participou da fundação da da Associação Feminina de Assistência Social de Criciúma (AFASC), foi uma das idealizadoras do Conselho Municipal da Mulher e da Secretaria de Ação Social e Família, reforçando seu compromisso com a promoção da igualdade e do bem-estar social.
Por sua atuação notável, Maria Dal Farra Naspolini recebeu diversas homenagens. Entre elas, Moção de Aplauso da Câmara de Vereadores de Criciúma, proposta pelo vereador Ricardo Fabris, em reconhecimento à conquista do Diploma de Mérito Educacional concedido pelo Conselho Estadual de Educação (CEE).
Maria é membro titular vitalícia da Academia Criciumense de Letras, desde 14/11/1997, no qual continua contribuindo com seu legado intelectual e social. Sua história é símbolo de dedicação, pioneirismo feminino na política e incansável defesa da educação como pilar da transformação social.
Neste momento em que Criciúma se prepara para comemorar os 100 anos de emancipação político administrativa, Dona Maria deixa uma mensagem:
“Que felicidade viver essa época! Acompanhando desde agora os festejos dos 100 anos de emancipação político administrativa. Uma história muito bonita que começou com os nossos imigrantes de várias etnias, principalmente os italianos que foram os precursores. Eles que construíram uma Criciúma não só materialmente, mas principalmente eu considero, o crescimento humano desta cidade. Aqui existe parceria entre as pessoas de várias etnias, todo mundo se entende bem. Aqui existe interesse em que a cidade cresça e que o município cresça. Tudo tem dado certo, os governantes, cada um fez o que pode e o que soube fazer. Hoje temos o prefeito Vagner Espíndola, que está interessado nos festejos dos 100 anos de emancipação desenvolvendo projetos para o crescimento da cidade, além de dar seguimento no trabalho lindo do ex-prefeito Clésio Salvaro, que eu digo brincando para as pessoas: Ele adotou Criciúma como se fosse pai da cidade e o nosso atual prefeito continua esse princípio de administração. É uma alegria nos meus 80 anos estar viva para acompanhar essas comemorações e quero estar viva em novembro para acompanhar os festejos do aniversário de emancipação da nossa cidade.”