10/09/2025 às 15h47min - Atualizada em 10/09/2025 às 15h47min

Mineiro do Centro, chafariz, catedral, calçadão: a praça em movimento

No centro da cidade, onde as ruas se cruzam e as histórias se encontram, a Praça Nereu Ramos segue como um dos principais símbolos da vida urbana criciumense. Mais que um espaço de passagem, é um palco de memórias: de reuniões políticas a encontros familiares, de manifestações culturais e momentos de fé.

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Praça Nereu Ramos Fonte: Arquivo Histórico Pedro Milanez

 

De ponto de parada dos tropeiros ao coração da cidade

A Praça Nereu Ramos, ponto central de Criciúma, guarda em suas raízes o retrato do crescimento da cidade. O que hoje é palco de eventos culturais, comércio e encontros cotidianos, foi, no final do século XIX, local de descanso para tropeiros que transitavam entre Urussanga e Araranguá.

Antes de ser praça, o terreno era um espaço amplo e sem delimitação formal, usado por viajantes. Os primeiros traçados e caminhos do núcleo colonial foram influenciados pelo curso do rio Criciúma.

A região central de Criciúma começou a se consolidar com a criação do Distrito de São José de Cresciúma por volta de 1892, quando foram instalados equipamentos públicos e a primeira igreja ainda em madeira, transformando o local no centro da vila.

A urbanização do distrito começou a ganhar forma em 1917, com a inauguração da nova igreja em alvenaria e a ampliação do perímetro urbano. Naquele período, a área que mais tarde se transformaria em praça pública ainda pertencia à família do senhor Antônio Dagostin. Pouco tempo depois, o terreno passou a ser destinado ao planejamento de um espaço aberto à comunidade, marcando o início da configuração do futuro centro da cidade.

Na década de 1930, o prefeito Cincinato Naspolini promoveu a desapropriação da área, até então ocupada como campo de futebol e estacionamento por quem frequentava o comércio local. Foi nesse período que a praça recebeu seu primeiro projeto paisagístico. Flores, árvores e canteiros começaram a desenhar o que se tornaria o centro da vida social criciumense.

Em 15 de dezembro de 1931 o local recebeu o nome de Praça Etelvina Luz, em homenagem à esposa do então governador Hercílio Luz, tornando-se rapidamente um ponto de referência simbólico para os moradores.

Em 1930, “Cresciúma” já havia conquistado sua emancipação como município. O entorno da futura Praça Nereu Ramos se transformava rapidamente: casas coloniais davam forma ao espaço urbano, árvores eram plantadas para compor o ajardinamento, e os primeiros comércios e estabelecimentos começavam a consolidar o centro da cidade como polo de convivência e desenvolvimento.

O espaço urbano ganhou sobrados que possuíam em seu pavimento térreo o uso comercial, e nos pavimentos superiores o uso residencial. A praça, com palmeiras e outros elementos originais do ajardinamento, tornava-se um dos principais espaços de convivência da população.

Em 5 de junho de 1937, por meio do Decreto nº 26, o então prefeito Elias Angeloni alterou a denominação do espaço para Praça Nereu Ramos, em homenagem ao governador catarinense Nereu de Oliveira Ramos. A revitalização da praça consolidou o local como ponto cívico e de acolhimento à população.

Nereu Ramos nasceu em 1888 na cidade de Lages SC. Em 1946, foi eleito vice-presidente da República e teve breve passagem pela presidência do Brasil, de 11 de novembro de 1955 a 31 de janeiro de 1956. Nereu Ramos faleceu em 16 de junho de 1958, em um acidente aéreo em Curitiba.

Em 1940, a pequena praça triangular ao lado da Praça Nereu Ramos teve sua denominação oficializada como Praça da Bandeira, por meio do Decreto nº 10, assinado pelo então prefeito Elias Angeloni, reforçando seu simbolismo cívico no coração da cidade.

Monumentos e marcos do entorno

Um destaque na praça é a Casa da Cultura Neusa Nunes Vieira, construída no início da década de 1940 para ser a sede da Prefeitura de Criciúma. Ao longo dos anos, também abrigou o Fórum de Justiça da Comarca (1944), a Câmara Municipal (1946) e a administração da Fundação Educacional de Criciúma - Fucri (1972-1980). Tombada como patrimônio histórico de Criciúma, atualmente a casa é administrada pela Fundação Cultural de Criciúma (FCC).

Homenagem aos mineiros

A instalação do Monumento ao Mineiro, em 29 de dezembro de 1946, na Praça Nereu Ramos, em frente à Catedral São José, marcou um novo momento para Criciúma. A inauguração ocorreu no mesmo dia em que a cidade sediava o Congresso Eucarístico.

A escultura foi erguida para celebrar os 33 anos da implantação da indústria carbonífera no Sul de Santa Catarina (1913–1946). Com um pedestal de nove metros de altura, o monumento homenageava os operários da mineração, atividade que moldou a identidade e impulsionou o desenvolvimento de Criciúma e de toda a região carbonífera, representados neste monumento pelo mineiro Sr. Manoel Costa, e que, anos mais tarde, mudaria de local.

A partir de 1966, na gestão do prefeito Rui Hülse, a praça recebeu o calçamento em petit pavê, tornando-se oficialmente um calçadão. Com o tempo, passou a sediar eventos como a Festa das Etnias, feiras, encontros religiosos e culturais.

Um Chafariz na praça e o mineirinho mudando de local

Em 1971, durante a gestão do prefeito Nelson Alexandrino, a Praça Nereu Ramos passaria a receber um chafariz em frente à Igreja Matriz São José. Para a execução da obra, foi necessário retirar o Monumento ao Mineiro, que ocupava a área central da praça.

A escultura ao mineirinho foi então demolida e reconstruída na Praça da Bandeira, com nova base, dimensões menores e posicionada ao nível do solo. Na mudança, a placa do monumento recebeu a inscrição “1913 - 1971”, posteriormente corrigida para “1913 - 1946”, de forma a preservar a homenagem original aos trabalhadores do carvão.

O Monumento ao Mineiro permanece no mesmo local, até hoje, embora a Praça da Bandeira tenha sido desativada e unificada à Praça Nereu Ramos.

Praça Nereu Ramos e o Desafio das Inundações

Com o avanço da urbanização e a expansão da malha viária ao redor da Praça Nereu Ramos, também vieram os problemas estruturais. Entre eles, um dos mais críticos foi a ocorrência de frequentes enchentes que atingiam o centro da cidade. Em dias de chuva intensa, a praça e suas imediações se transformavam em verdadeiros pontos de alagamento, afetando diretamente o comércio e a rotina dos moradores.

Os prejuízos materiais eram recorrentes, e a cena de ruas tomadas pela água tornou-se parte da memória de quem vivia e trabalhava na região. A situação trouxe à tona a urgência por obras de drenagem e infraestrutura, que se tornaram pauta constante das administrações municipais nas décadas seguintes.

Em 2009, na gestão do prefeito Clésio Salvaro, Criciúma iniciou um amplo processo de revitalização do centro. As obras incluíram a implantação de redes subterrâneas de energia elétrica, esgoto e gás encanado, além da macrodrenagem que parte do bairro Pio Corrêa, atravessa a Praça Nereu Ramos e segue até o bairro Santa Bárbara, numa extensão de cerca de dois mil metros.

O ponto central desse conjunto de investimentos foi a construção do Canal Auxiliar do Rio Criciúma. A obra, que passa por baixo da praça, teve como objetivo resolver de forma definitiva os recorrentes alagamentos na região.

Em 6 de janeiro de 2012, quando Criciúma celebrava 132 anos de fundação, a cidade ganhou um presente há muito tempo aguardado pela população e, em especial, pelos comerciantes do centro: a inauguração do canal auxiliar do Rio Criciúma. A obra representou um marco estrutural.

“Sob um dos mais belos jardins de Criciúma, a perfeita sintonia entre a vontade dos homens e os impulsos da natureza. Um novo caminho se abre para as águas que banham o rio Criciúma.”     Criciúma, 06 de janeiro de 2012 - 132 anos de História

Prefeito Clésio Salvaro - Vice-Prefeito Márcio Búrigo  (texto no monumento)

Durante as obras, o piso original da praça, incluindo petit pavê, foi substituído por pavers, que conferem maior modernidade ao espaço.

A Praça Nereu Ramos respira a cidade. Mais do que um espaço físico, a praça é um símbolo vivo de pertencimento: palco de manifestações, celebrações, fé e cultura. Um lugar onde gerações se reconhecem, se reúnem e constroem novas histórias.

É ali, no coração urbano, que o passado encontra o futuro, e onde a vida criciumense segue pulsando.

 

 

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