16/09/2025 às 16h04min - Atualizada em 16/09/2025 às 16h04min

O Grande Dia : A instalação oficial do município de "Cresciuma"

O ano de 1925 marcou uma virada decisiva na história de Criciúma. Após décadas de luta pela autonomia, a emancipação em relação a Araranguá estava garantida, e a comunidade se preparava para viver sua primeira experiência democrática.

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Imagem ilustrativa

 

Da eleição à posse: os primeiros líderes de Criciúma

Poucas semanas antes da instalação, Criciúma havia realizado sua primeira eleição, em 6 de dezembro de 1925. Foram escolhidos o superintendente Marcos Rovaris e os primeiros conselheiros municipais: Fábio Thomaz da Silva, Gabriel Arns, Henrique Dal Sasso, Olivério Nüernberg e Pedro Benedet, este último designado presidente do Conselho. Todos aguardavam o ato solene de 1º de janeiro de 1926 para tomar posse em conjunto.

 

A instalação oficial do município de Criciúma

O amanhecer de 1º de janeiro de 1926 transformou Criciúma em palco de celebração. As ruas e praças estavam adornadas com palmeiras, bandeirolas e guirlandas multicoloridas, compondo, nas palavras de Pedro Milanez (Fundamentos Históricos de Criciúma, 1991),

"um cenário belíssimo e encantador, com efeito surpreendente”.

Às 10h30, a estação ferroviária foi tomada pela população. A chegada do trem trazendo superintendentes, deputados, juízes e líderes religiosos foi saudada por mais de quinhentas pessoas. Ali se formou um cortejo solene que seguiu em direção ao Clube Seis de Janeiro (atual prédio das Lojas Fátima), ao som da banda de Imbituba, cedida especialmente para o evento.

O governador de Santa Catarina à época era o Coronel Antônio Pereira de Oliveira, que havia assumido após o falecimento de Hercílio Luz, em 24 de outubro de 1924. Pela impossibilidade de comparecer, o coronel designou como seu representante o deputado Álvaro Catão, então superintendente de Imbituba. Coube a ele representar oficialmente o Governo do Estado e o Congresso Representativo, conferindo legitimidade ao ato solene e enaltecendo a importância da emancipação.

A sessão solene

No primeiro dia de 1926, a população e as autoridades reuniram-se para assistir ao momento histórico da instalação do novo município. Quando o superintendente Marcos Rovaris abriu oficialmente a sessão do Conselho Municipal, fez o juramento legal e declarou instalado o município de Criciúma.

Em seguida, passou a palavra ao orador oficial, padre Ludovicco Coccollo, que proferiu um discurso arrebatador, lembrado por Pedro Milanez como “belíssimo e muito aplaudido”. Os sinos da matriz soaram forte e a banda executou músicas festivas, criando uma atmosfera solene e de celebração.

Naquele mesmo palco, outras vozes se destacaram. A professora Albina Piazza, em nome das mulheres criciumenses, fez um pronunciamento que impressionou a todos. Logo depois, a jovem Zanzi Silva, filha do conselheiro Fábio Silva, levou um ramalhete de flores a Rovaris, gesto  que arrancou aplausos e lágrimas do público.

Também discursaram o juiz de direito da comarca, João de Deus Faustino da Silva, representantes do Conselho Municipal de Imbituba e de Tubarão, além de Álvaro Catão. Em sua fala, Catão comparou Criciúma a “uma nova estrela a fulgir no céu constelado da terra catarinense”, deixando o auditório visivelmente comovido.

Encerrada a solenidade no salão, todos os convidados seguiram para um banquete no Hotel do Comércio, servido em mesas em forma de “U” e animado pela banda operária. O cardápio variado, descrito como requintado e caprichado, somava-se ao clima de confraternização e orgulho coletivo. A tarde terminou com danças improvisadas, numa alegria que parecia não ter fim.

Quando o trem partiu levando as autoridades de volta, a estação estava novamente lotada. A multidão despediu-se com aplausos, vivas e até lágrimas. Criciúma vivia não apenas um ato administrativo, mas um momento histórico, carregado de emoção e simbolismo, como resumiu Pedro Milanez:

“Um dia festivo e emocional, onde o coração do povo batia em uníssono com o sonho da emancipação”.

O legado de 1926

O ato solene de 1926 não foi apenas um rito burocrático. Representou a conquista da autonomia política, o início de uma gestão local e a afirmação de Criciúma como cidade.

 

Naquele dia, entre discursos, músicas e emoções, começava a ser escrita a história de um município que se transformaria em um dos polos mais importantes de Santa Catarina.

 

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